LERómetro CA #35


Prof. Paula Sousa

 “As Farpas” de Eça de Queiróz e de Ramalho Ortigão (1871) aguçam o meu lado mais satírico. Desafio todos aqueles que querem melhorar o seu sentido de cidadania a viajarem no tempo até ao século XIX e vivenciarem a realidade portuguesa num retrato fiel e fruto do seu tempo. A obra relata o estado da sociedade e da política, pretendendo chamar a atenção e assim incutir o sentido crítico/argumentativo.

“Leitor de bom senso – que abres curiosamente a primeira página deste livrinho, sabe, leitor (…) que foi para ti que ele foi escrito – se tens bom senso! (…)

Aproxima-te um pouco de nós, e vê. O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carateres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Nem crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. (…) Nós não quisemos ser cúmplices na indiferença universal. E aqui começamos, serenamente, sem injustiça e sem cólera, a apontar dia a dia o que poderíamos chamar – o progresso da decadência. (…)
Assim vamos. E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa (…) para deixar pendente um sinal.”


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